Volvidos dois meses após ter saído de
Inharrime como voluntária, de ter deixado sedimentar, no meu ânimo, ideias e
experiências para melhor surgirem com clareza, é hora de dar o meu testemunho:
Eu tive um sonho!
Há alguns anos que vinha acalentando, bem
enraizado no fundo da minha Alma, o desejo de um dia ser voluntária em
África, poder dar de mim algum contributo junto dos mais pobres dos pobres do
Mundo.
Senti esse apelo como um "percurso espiritual"
que urgia realizar.
Já não sou jovem, mas consegui concretizar
esse sonho, depois de ter pedido a Reforma Antecipada.
Estive mês e meio em Inharrime dando apoio
escolar a várias meninas internas. Mas a todas em geral eu dei mimos,
abraços e muitas conversas. Não consegui cumprir, por vários
factores, o prazo de 3 meses a que me tinha proposto, de cujo procedimento me
sinto triste e me arrependo todos os dias.
Tenho saudades das suas traquinices, do
barulho das suas vozes, dos seus carinhos e, quando cheguei a casa,
envolveu-me um silêncio sepulcral e chorei por elas e por mim - por não
ter conseguido perseverar até ao fim.
África é realmente uma Terra de magia, que
nos envolve, mas não importa aqui falar tanto dessa experiência, pois não foi o
que lá me levou (em qualquer altura posso viajar e conhecer novos mundos e
diferentes culturas).
Não obstante, sinto a nostalgia de
contemplar aquele céu estrelado percorrido pela Via Láctea (que é único),
os cheiros da terra vermelha, as paisagens a perder de vista de coqueiros
e cajueiros, as palhotas ao longo das estradas, o mar infindo e, em
suma, a afabilidade daquele povo.
O Centro Laura Vicuña em Inharrime é, de facto, "uma obra meritória e grandiosa" em prol dos mais necessitados e reconheço o esforço, boa-vontade e dedicação das Irmãs Salesianas Filhas de Maria Auxiliadora (bem como de todos os Missionários) que, através dos tempos, com coragem, persistência, amor e alegria, sempre de acordo com os preceitos cristãos, entregam as suas vidas à tarefa de elevar o nível educacional, moral e também material dos mais desfavorecidos.
O Centro está tão bem organizado e estruturado, de maneira que muitas vezes dou comigo a pensar que, este, seria um bom "modelo" a ser exportado para Portugal...
As Irmãs são muito hospitaleiras, alegres e dedicam-se às meninas com grande carinho e atenção, não descurando nenhum dos aspectos necessários ao seu bem-estar (das meninas).
O Centro está tão bem organizado e estruturado, de maneira que muitas vezes dou comigo a pensar que, este, seria um bom "modelo" a ser exportado para Portugal...
As Irmãs são muito hospitaleiras, alegres e dedicam-se às meninas com grande carinho e atenção, não descurando nenhum dos aspectos necessários ao seu bem-estar (das meninas).
Das meninas gostei muito, são amorosas e
afáveis. Vindas de famílias pobres e órfãs, têm, mesmo assim, uma alegria
contagiante e é fácil amá-las. Aqui, sentem-se felizes, as regras são
muito flexíveis (dentro dos limites necessários); estudam, rezam, brincam muito
e aprendem as tarefas próprias a tornarem-se, no futuro, pessoas úteis e de
bem. Às 6,30h da manhã, há logo alegria, pois elas já estão a tomar o
pequeno-almoço ao ar livre, para entrarem na Escola às 7h.
Oh, como tenho saudades delas! Senti-me
amada, com um amor puro de coração, por aquelas meninas, a quem ouvia
constantemente chamar "mana Helena", e me afagavam e acarinhavam. Se
eu lhes dei carinho e atenção, sinto-me grata, porquanto elas me
retribuíram em dobro.
Foi uma experiência única que abriu uma via
radicalmente nova na minha vida, que cavou nas profundezas do meu ser um novo
olhar sobre o mundo e sobre a Humanidade.
Por isso, se bem que a minha dádiva
ficasse um pouco aquém, como já referi, daquilo a que me tinha
proposto, valeu contudo a pena, na certeza de que há sempre algo de
positivo a retirar, que nos enriquece e sublima.
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